Truckin' My Blues Away...
A Morte espreita. A Morte espreita? Pelo jeito eu só vou escrever nesse blog quando alguém morrer. Satoshi Kon morreu essa semana, e Harvey Pekar morreu também. Como morre gente nesse mundo. Nunca me importei muito com isso, mas ultimamente morreu tanta gente que eu gosto. Morreu o Glauco, de quem eu já tinha falado. Morreu a Brittanny Murphy, que era bem legal. Eles caem como moscas, lá no Olimpo. A Morte espreita.
E eu? Minha nossa, e eu vou morrer? Quem vai escrever no blog, se eu morrer? Convenhamos, depois da vida pode não haver nada ou pode haver alguma coisa, mas não vai faltar assunto. Não queria morrer. Nem queria pensar nisso. Não pensaria se pudesse evitar, mas não consigo. A Morte espreita. Ao meu redor e dentro de mim, como um câncer. E se for câncer? Tinha um pouco de sangue nas minhas fezes hoje.
Queria que fosse como nos quadrinhos. Os heróis e vilões morrem e tudo parece tão triste e desolador para aqueles que ficaram para trás. Lembro da Liga da Justiça fazendo um funeral para o Caçador de Marte quando ele foi assassinado, tudo tão triste. Alguns meses depois, ele volta, maligno, mas depois fica bonzinho de novo, com uma nova carga de conhecimento graças a sua experiência pós-vida. Ou o Capitão America, que morreu amargurado e humilhado e todos sentiram por ele, mas não demorou muito e lá estava ele no mundo dos vivos. Queria tanto que fosse assim. Eu morreria, de forma heróica ou significativa narrativamente, e todos chorariam por mim, com minha morte esclarecendo problemas graves com os quais todos teriam que lidar. E o fariam, afinal estariam inspirados pelo que me aconteceu. Alguns meses, no máximo alguns anos depois eu retornaria, de uma forma muito complicada. A princípio, não seria eu mesmo, estaria profundamente alterado por toda essa historia. Mas continuaria com a vida que eu levava antes, com novo ânimo e objetivos claros.
Acho que Satoshi Kon e Harvey Pekar não gostavam desse tipo de coisa. Os dois deviam conhecer quadrinhos de super-herói, mas com certeza não gostavam. Ambos criavam historias baseadas na realidade, que encontravam o fantástico naquilo que a Marvel e a DC consideram banal. Segundo eles, a vida que você e eu vivemos é o verdadeiro mistério a ser solucionado, a jornada heróica a ser percorrida e, por fim, o inimigo a ser derrotado. Pois a Morte espreita, e sempre sai vitoriosa.
Quer saber? A Morte espreita? Dane-se! Seguiremos em frente. Aqueles que se foram continuarão comigo, e vou levando a vida. Sem medo, sem arrependimento e com muitas calorias. E quando eu me for, continuarei com alguém que também vai seguir em frente. Que, mesmo sem saber, também vai levar consigo todos esses caras mortos que eu já levava.
Essa semana, eu saí com meus amigos, revi um que estava longe há algum tempo, me diverti muito e falei de um quadrinho do Robert Crumb – amigo do Harvey – que mostrava apenas uma seqüência de imagens de um sujeito andando com uma ginga engraçada, e a frase Keep on Truckin’. Tem uma rima existencial aí.
Simplesmente, não há realmente nada há espreita, então não tenha medo de ser feliz. Continue. Vai nessa. Na moral. Keep on Truckin’.
domingo, 12 de setembro de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
TRAGÉDIAS (com acento, porque a nova norma não entra em assunto sério)
Caiu uma menina do sexto andar. Caiu um helicóptero na avenida. Uma moça de família rica combinou com o namorado pra matar os próprios pais. Caiu o Morro do Bumba. A menina foi jogada pelo próprio pai. Um tempo atrás estava chovendo todo dia. Morreram famílias inteiras. No Morro por causa da chuva, ou na chuva por si só. Mas era tudo gente pobre, carioca. Em São Paulo e no Sul morreu muito mais gente. Gente pobre e gente rica, tudo junto. Se bem que demorou mais. O pai da menina foi sentenciado esses dias. junto com a mulher dele. Do Fernandinho Beira-Mar eu não soube mais nada.
E mataram o Glauco. Falaram um pouco do Glauco. A mídia eu quero dizer. Depois que ele foi assassinado junto com o filho. Alvejados em casa, na frente da esposa e da filha - imagina a cena. Imagina. Daí eu vi tanto político, mas tanto político prestando homenagem, todo mundo dizendo que ele era "dono de um traço caligráfico", sem ter a mínima noção do que isso quer dizer. Amigos e colegas e fãs - eu enre eles - choraram o que puderam. Fiquei pensando no Laerte também.
Mas daí pararam de falar, todos juntos. Porque começou o julgamento do pai da menina, a Isabela. Daí o que eu vi, foi circo. Gente chorando por causa da mãe, do pai e do avô e do filho que ainda não veio. Gente pichando a casa da família do pai da menina. Multidão enfurecida - um clássico - ao redor do fórum, seguindo o camburão. Gente agradecida pela sentença, porque finalmente podem seguir vivendo. E tudo muito bem filmado e twittado.
Hoje, eu nem sei o que foi feito do assassino do Glauco. Depois do circo dos Nardoni, ficou difícil voltar pro assunto. Quem chorou pela menininha indefesa e pelos sacos pretos no Morro do Bumba não vai voltar pra chorar pelo Glauco. Acho que não é tão facil chorar por um cara de classe média-alta - um Villas-Boas, veja só - meio doidão, e já de meia-idade ainda por cima, afinal a tragédia requer juventude.
Eu não conheci o Glauco. Tão pouco conheci a Isabela ou qualquer habitante do Morro do Bumba. Mas a morte do cara que criou o Geraldão, um terço de Los Tres Amigos, "dono de um traço caligáfico" - droga! - é pra mim uma tragédia maior do que todas essas, pois me afeta pessoalmente. Não sou egoísta, sou realista. Me sinto mal por todas as outras barbaridades, mas a Isabela, por exemplo, é uma incógnita pra mim. Morrer foi a única coisa que ela fez para afetar a mim ou qualquer outra pessoa. Se pensar direito, você vai ver que a morte dela até adicionou algo p´ra sua personalidade. "Me indignei pelo assassinato de uma garotinha e choro pela mãe dela". Agora, com a morte do Glauco, a gente perde alguma coisa. Essa é a chave da questão. A tragédia que vai parar na boca do povo, que é realmente chorada, é aquela que não afeta de verdade. Citei o fato de ninguém mais falar do Fernandinho Beira-Mar no começo do texto, mas podia ter falado do Sarney, do Estado Laico só na teoria, do Collor ainda estar por aí, do racismo fantasma - acredite, se a Isabela fosse negra ninguém ia falar nada. E a tudo isso, adiciono a morte do Glauco e todas as outras tragédias que nos afetam como povo e como indivíduos, e das quais preferimos não falar.
Tadinha da Isabela, né? E tadinhos de nós.
E mataram o Glauco. Falaram um pouco do Glauco. A mídia eu quero dizer. Depois que ele foi assassinado junto com o filho. Alvejados em casa, na frente da esposa e da filha - imagina a cena. Imagina. Daí eu vi tanto político, mas tanto político prestando homenagem, todo mundo dizendo que ele era "dono de um traço caligráfico", sem ter a mínima noção do que isso quer dizer. Amigos e colegas e fãs - eu enre eles - choraram o que puderam. Fiquei pensando no Laerte também.
Mas daí pararam de falar, todos juntos. Porque começou o julgamento do pai da menina, a Isabela. Daí o que eu vi, foi circo. Gente chorando por causa da mãe, do pai e do avô e do filho que ainda não veio. Gente pichando a casa da família do pai da menina. Multidão enfurecida - um clássico - ao redor do fórum, seguindo o camburão. Gente agradecida pela sentença, porque finalmente podem seguir vivendo. E tudo muito bem filmado e twittado.
Hoje, eu nem sei o que foi feito do assassino do Glauco. Depois do circo dos Nardoni, ficou difícil voltar pro assunto. Quem chorou pela menininha indefesa e pelos sacos pretos no Morro do Bumba não vai voltar pra chorar pelo Glauco. Acho que não é tão facil chorar por um cara de classe média-alta - um Villas-Boas, veja só - meio doidão, e já de meia-idade ainda por cima, afinal a tragédia requer juventude.
Eu não conheci o Glauco. Tão pouco conheci a Isabela ou qualquer habitante do Morro do Bumba. Mas a morte do cara que criou o Geraldão, um terço de Los Tres Amigos, "dono de um traço caligáfico" - droga! - é pra mim uma tragédia maior do que todas essas, pois me afeta pessoalmente. Não sou egoísta, sou realista. Me sinto mal por todas as outras barbaridades, mas a Isabela, por exemplo, é uma incógnita pra mim. Morrer foi a única coisa que ela fez para afetar a mim ou qualquer outra pessoa. Se pensar direito, você vai ver que a morte dela até adicionou algo p´ra sua personalidade. "Me indignei pelo assassinato de uma garotinha e choro pela mãe dela". Agora, com a morte do Glauco, a gente perde alguma coisa. Essa é a chave da questão. A tragédia que vai parar na boca do povo, que é realmente chorada, é aquela que não afeta de verdade. Citei o fato de ninguém mais falar do Fernandinho Beira-Mar no começo do texto, mas podia ter falado do Sarney, do Estado Laico só na teoria, do Collor ainda estar por aí, do racismo fantasma - acredite, se a Isabela fosse negra ninguém ia falar nada. E a tudo isso, adiciono a morte do Glauco e todas as outras tragédias que nos afetam como povo e como indivíduos, e das quais preferimos não falar.
Tadinha da Isabela, né? E tadinhos de nós.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
CÓDIGO DE ÉTICA PESSOAL DE BRUNO T. WEBER!
1. Não permitir o abuso infantil, de qualquer maneira.
2. Não aturar o racismo alheio.
3. Sempre tentar um salvamento heróico.
4. Não deixar minha mãe saber mais do que ela precisa saber.
5. Não demonstrar hipocrisia quanto às próprias preferências musicais, salvo em situação de possível relação sexual.
6. Ganhar a vida sem desrespeitar nenhuma dessas regras.
7. Indignar-se o suficiente.
8. Sempre fingir que está ouvindo.
9. Sempre tentar pagar menos, mas nunca passar a perna, a não ser que se trate de um assassino estuprador pedófilo neonazista.
10. Nunca julgar baseando-se em religião, preferências musicais e culturais, mas sempre discutir sobre isso.
11. Nunca mais se apaixonar às pressas – tentar, pelo menos.
12. No caso de confronto com criatura sobrenatural ou entidade alienígena superior, sempre dar uma chance ao diálogo antes de tentar fugir.
13. Se possível, matar Vincent Gallo – informe-se sobre o sujeito e entenderá o porquê.
14. Sempre defender o bom nome da Tropa dos Lanternas Verdes.
15. “No dia mais claro, na noite mais densa, o mal sucumbirá ante a minha presença. Aquele que segue o mal, tudo perde, diante da luz do Lanterna Verde”.
16. Antes de um possível juízo final, beijar a garota atraente mais próxima, sem restrições.
17. Nunca acreditar em nada do que você lê.
“Esses são meus princípios. Se você não gosta, eu tenho outros”.
Groucho Marx
2. Não aturar o racismo alheio.
3. Sempre tentar um salvamento heróico.
4. Não deixar minha mãe saber mais do que ela precisa saber.
5. Não demonstrar hipocrisia quanto às próprias preferências musicais, salvo em situação de possível relação sexual.
6. Ganhar a vida sem desrespeitar nenhuma dessas regras.
7. Indignar-se o suficiente.
8. Sempre fingir que está ouvindo.
9. Sempre tentar pagar menos, mas nunca passar a perna, a não ser que se trate de um assassino estuprador pedófilo neonazista.
10. Nunca julgar baseando-se em religião, preferências musicais e culturais, mas sempre discutir sobre isso.
11. Nunca mais se apaixonar às pressas – tentar, pelo menos.
12. No caso de confronto com criatura sobrenatural ou entidade alienígena superior, sempre dar uma chance ao diálogo antes de tentar fugir.
13. Se possível, matar Vincent Gallo – informe-se sobre o sujeito e entenderá o porquê.
14. Sempre defender o bom nome da Tropa dos Lanternas Verdes.
15. “No dia mais claro, na noite mais densa, o mal sucumbirá ante a minha presença. Aquele que segue o mal, tudo perde, diante da luz do Lanterna Verde”.
16. Antes de um possível juízo final, beijar a garota atraente mais próxima, sem restrições.
17. Nunca acreditar em nada do que você lê.
“Esses são meus princípios. Se você não gosta, eu tenho outros”.
Groucho Marx
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
DIFERENÇAS ENTRE SÃO PAULO E ABC PAULISTA
Outro dia eu, agradavelmente acompanhado, estava indo feliz e contente ver Avatar, a tal continuação de Titanic com Smurfs, e peguei o ônibus para a estação de trem. No meio do caminho, subiu também uma mulher com seu filho. A mulher paga a sua passagem e passa pela catraca normalmente, porém, seu filho não a seguiu. "Menino, eu já te dei o dinheiro, pode passar", diz a mãe. Então o garoto responde que quer guardar o dinheiro para comprar doces! Nisso, a mãe e o motorista do ônibus caem na risada. Ha-hahaha... O motorista diz que o garoto pode pular a catraca, mas o moleque fica com vergonha. Ou então não era lá muito capaz de pular, já que era meio gordinho, acho que de tanto guardar dinheiro pra doces. Então, quando parou num sinal vermelho, o motorista se levantou - e eu pude ver que ele tinha a maior cara de tio bonachão boa-praça. Ele pegou e o ajudou a pular a catraca, com um sorriso simpático no rosto. Tudo isso aconteceu num belo dia ensolarado em São Caetano do Sul.
Quando cheguei em São Paulo para ver o filme, já estava chovendo. Minha agradável companhia e eu tivemos que pegar outro ônibus para chegar ao cinema. Quando me aproximava do meu ponto, um outro casal se levantou ao mesmo tempo que eu, e a moça apertou o botão para sinalizar a parada. Mas o ônibus não parou, passando direto pelo ponto. Eis o diálogo que se seguiu:
MOÇA - Motorista! Passou o ponto!
MOTORISTA - Tem que sinalizar!
MOÇA - A gente apertou o botão, caramba!
MOTORISTA - Mas não sinalizou essa bosta aqui!
(Realmente, depois da moça apertar o botão, eu apertei também, mas o sinal não acendeu, e só quando apertei pela terceira vez é que eu ouvi o apito, mas a discussão continuava.)
MOTORISTA - Agora sim, apertaram essa merda!
MOÇA - Pára logo pra gente descer!
MOTORISTA - Ah, vai se foder! Desce logo!
MOÇA - Oh, educação, heim?
Finalmente o ônibus parou um pouco depois do ponto e nós descemos, por sorte quase na frente do shopping onde veriamos o filme. E seguimos nosso caminho, admirados desses dois incidentes terem ocorrido no mesmo dia. Chovia bastante, e fomos ver o filme.
Quando cheguei em São Paulo para ver o filme, já estava chovendo. Minha agradável companhia e eu tivemos que pegar outro ônibus para chegar ao cinema. Quando me aproximava do meu ponto, um outro casal se levantou ao mesmo tempo que eu, e a moça apertou o botão para sinalizar a parada. Mas o ônibus não parou, passando direto pelo ponto. Eis o diálogo que se seguiu:
MOÇA - Motorista! Passou o ponto!
MOTORISTA - Tem que sinalizar!
MOÇA - A gente apertou o botão, caramba!
MOTORISTA - Mas não sinalizou essa bosta aqui!
(Realmente, depois da moça apertar o botão, eu apertei também, mas o sinal não acendeu, e só quando apertei pela terceira vez é que eu ouvi o apito, mas a discussão continuava.)
MOTORISTA - Agora sim, apertaram essa merda!
MOÇA - Pára logo pra gente descer!
MOTORISTA - Ah, vai se foder! Desce logo!
MOÇA - Oh, educação, heim?
Finalmente o ônibus parou um pouco depois do ponto e nós descemos, por sorte quase na frente do shopping onde veriamos o filme. E seguimos nosso caminho, admirados desses dois incidentes terem ocorrido no mesmo dia. Chovia bastante, e fomos ver o filme.
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