domingo, 12 de setembro de 2010

KEEP ON TRUCKIN'

Truckin' My Blues Away...

A Morte espreita. A Morte espreita? Pelo jeito eu só vou escrever nesse blog quando alguém morrer. Satoshi Kon morreu essa semana, e Harvey Pekar morreu também. Como morre gente nesse mundo. Nunca me importei muito com isso, mas ultimamente morreu tanta gente que eu gosto. Morreu o Glauco, de quem eu já tinha falado. Morreu a Brittanny Murphy, que era bem legal. Eles caem como moscas, lá no Olimpo. A Morte espreita.
E eu? Minha nossa, e eu vou morrer? Quem vai escrever no blog, se eu morrer? Convenhamos, depois da vida pode não haver nada ou pode haver alguma coisa, mas não vai faltar assunto. Não queria morrer. Nem queria pensar nisso. Não pensaria se pudesse evitar, mas não consigo. A Morte espreita. Ao meu redor e dentro de mim, como um câncer. E se for câncer? Tinha um pouco de sangue nas minhas fezes hoje.
Queria que fosse como nos quadrinhos. Os heróis e vilões morrem e tudo parece tão triste e desolador para aqueles que ficaram para trás. Lembro da Liga da Justiça fazendo um funeral para o Caçador de Marte quando ele foi assassinado, tudo tão triste. Alguns meses depois, ele volta, maligno, mas depois fica bonzinho de novo, com uma nova carga de conhecimento graças a sua experiência pós-vida. Ou o Capitão America, que morreu amargurado e humilhado e todos sentiram por ele, mas não demorou muito e lá estava ele no mundo dos vivos. Queria tanto que fosse assim. Eu morreria, de forma heróica ou significativa narrativamente, e todos chorariam por mim, com minha morte esclarecendo problemas graves com os quais todos teriam que lidar. E o fariam, afinal estariam inspirados pelo que me aconteceu. Alguns meses, no máximo alguns anos depois eu retornaria, de uma forma muito complicada. A princípio, não seria eu mesmo, estaria profundamente alterado por toda essa historia. Mas continuaria com a vida que eu levava antes, com novo ânimo e objetivos claros.
Acho que Satoshi Kon e Harvey Pekar não gostavam desse tipo de coisa. Os dois deviam conhecer quadrinhos de super-herói, mas com certeza não gostavam. Ambos criavam historias baseadas na realidade, que encontravam o fantástico naquilo que a Marvel e a DC consideram banal. Segundo eles, a vida que você e eu vivemos é o verdadeiro mistério a ser solucionado, a jornada heróica a ser percorrida e, por fim, o inimigo a ser derrotado. Pois a Morte espreita, e sempre sai vitoriosa.
Quer saber? A Morte espreita? Dane-se! Seguiremos em frente. Aqueles que se foram continuarão comigo, e vou levando a vida. Sem medo, sem arrependimento e com muitas calorias. E quando eu me for, continuarei com alguém que também vai seguir em frente. Que, mesmo sem saber, também vai levar consigo todos esses caras mortos que eu já levava.
Essa semana, eu saí com meus amigos, revi um que estava longe há algum tempo, me diverti muito e falei de um quadrinho do Robert Crumb – amigo do Harvey – que mostrava apenas uma seqüência de imagens de um sujeito andando com uma ginga engraçada, e a frase Keep on Truckin’. Tem uma rima existencial aí.
Simplesmente, não há realmente nada há espreita, então não tenha medo de ser feliz. Continue. Vai nessa. Na moral. Keep on Truckin’.