terça-feira, 26 de maio de 2009

TECNO-GRITO

Semana passada, se você fosse à Avenida Paulista e entrasse na Fnac, famosa rede de super-megalojas de livros, dvds e tecnologia multimídia, é provável que você inclinasse sua cabeça, com aquela clássica expressão intrigada no rosto, ao escutar um misterioso som. Soava como um grito feminino ouvido a distância, como aqueles gemidos desesperados dos filmes de terror, aqueles gritos arrastados causados por torturas inomináveis. Você teria ouvido esse som ininterrupto, com apenas pequenas pausas ecoando, e teria imaginado que seria o som de um filme sendo exibido em uma das muitas telas de plasma, ou talvez algum trabalho experimental de áudio que a loja estava tocando. Mas era simplesmente o som que a escada rolante fazia precisando de mais lubrificação. Mais um dos pequenos mistérios da vida, aparentemento solucionado. Ah, puxa...
Bom, foi isso que aconteceu comigo. Achei interessante, mas não dei muita importância. Logo depois, eu fui ao banheiro público da Fnac, conhecido point de homossexuais a procura de sexo casual. Então é bom ficar de olhos abertos por lá. Do lado de fora, no corredor, há um purificador de água, no qual parei para refrescar a garganta. Naquele dia, se você fizesse como eu fiz e posicionasse o seu copo no purificador e apertasse o botão esperando que a água cristalina fosse liberada... Não se preocupe, a água estava ótima como sempre. Mas talvez você, como eu, tivesse percebido que a máquina soltava um gemido baixo e comprido, como o choro de um animal.
Não seria muita coincidência? Duas máquinas de uso constante, no mesmo lugar, quase ao mesmo tempo, emitindo sons muito parecidos com o choro humano. O que isso quer dizer? Você pode pensar que eu estou apenas imaginando coisas, mas minha teoria é de que esses aparelhos estão sofrendo por falta de atenção. Afinal, a Fnac não é o melhor lugar para uma escada rolante e um purificador de água com problemas de auto-estima. Esses dois, que já foram considerados exemplos de tecnologia de ponta, perdem um pouco do apelo que tinham antes quando colocados lado a lado às televisões planas de 80 polegadas e aos telefones celulares com câmeras de não sei quantos pixels. Imagina trabalhar todo dia perto do cara que te roubou o holofote, sem ter um ombro amigo pra chorar. Sem falar em todos os estranhos que passam por você o tempo todo sem te dar a mínima atenção. Acho que a loja não oferece auxílio psicológico aos seus funcionários inorgânicos. Não é à toa que gritam.

Um comentário:

Leandreis disse...

1) Se pelo menos eles deixassem o purificador perto da escada...

2) A Fnac não oferece auxílio a ninguém! Os atendentes ali são como duendes, você tem que crer pra poder ver um!

3) Já tive problemas naquele banheiro... Hoje em dia seguro até chegar no Bombril.